Nos estaleiros navais de Peniche, uma equipe de 30 pessoas está finalizando a montagem das primeiras três máquinas de 750 kilowatts cada, correspondentes à primeira fase do projeto Okeanós – um investimento de oito milhões e meio de euros do consórcio, que incluiu a portuguesa Enersis, uma empresa de energias renováveis, e o parceiro tecnológico escocês Ocean Power Delivery (OPD), financiado em 15 por cento (1,25 milhões de euros) por recursos públicos, no âmbito do Programa de Incentivo à Modernização da Economia (Prime).
Os três dispositivos serão instalados a cinco quilômetros da costa, prevendo-se que até ao final do ano já tenham capacidade para uma produção média anual de sete gigawatts por hora, capaz de suprir as necessidades de mais de 1.500 residências, o equivalente a seis mil habitantes.
Em 2008, quando estiver concretizada a segunda fase, conta-se que estejam instaladas 28 máquinas produtoras de 20 megawatts, num investimento próximo aos 70 milhões de euros.
Segundo Richard Yemm, inventor da máquina Pelamis e responsável técnico da OPD, “este é um marco significativo para o mercado de energia renovável. Vemos esta encomenda como apenas o primeiro passo para o desenvolvimento do potencial português, que pode crescer até 1 bilhão de euros em dez anos”. Estima-se que em Portugal poderão se instalar dispositivos de conversão capazes de gerar 20 por cento do atual consumo elétrico.
A perspectiva é que possa ser desenvolvido um parque de aproveitamento com 150 destas máquinas, à volta dos 125 megawatts, potência que pode abastecer de energia vários concelhos do norte do País, onde as ondas são mais fortes.
Mas a existência de 250 quilômetros de costa utilizável para o aproveitamento da energia é apontada como uma mais-valia por Martin Shaw, diretor de projeto da OPD. No que toca ao Centro de Portugal, o município da Nazaré poderá vir a ter um dos parques de ondas para produção comercial de energia, que manifestou interêsse em acolher o projeto.
Estudos já realizados apontam a Praia do Norte como a localização adequada. “A construção das futuras máquinas será quase toda feita em Portugal – ao contrário das três que estão sendo montadas em Peniche e que vieram da Escócia – mas o local escolhido para a instalação de uma fábrica ainda não foi decidido”, revelou Martin Shaw.
Mercado de 325 bilhões de Euros
Portugal é um país estratégico na produção de energia a partir das ondas e tem um dos maiores potenciais a nível mundial. De acordo com Max Carcas, diretor comercial da OPD, o País “goza de um excelente recurso, denso, estável e previsível, não estando sujeito a fenômenos meteorológicos”.
Existe um conjunto de localizações potenciais para explorar esta energia na Europa. As mais promissoras são no Reino Unido, Irlanda, França, Espanha, Noruega e Portugal.
A instalação de um cluster das ondas abre uma janela de oportunidades para exportações de alta tecnologia.
Para Max Carcas, “o Governo foi visionário em ver o potencial de energia de ondas, que complementa a energia eólica, tornando-se Portugal a maior fonte energética do Mundo”. A nível global, estima-se que o mercado em causa valha 325 bilhões de euros.
Como funciona a energia gerada pelas marés
Cada máquina Pelamis mede 140 metros de comprimento por 3,5 metros de diâmetro. Pesam 700 toneladas e ficam distanciadas 225 metros umas das outras.
Assemelham-se, em termos de design, a cinco vagões de um trem de alta velocidade, mas sem janelas, flutuando um metro acima do nível da água.
O sistema de amarração é composto por uma combinação de flutuadores e pesos que impede os cabos de ficaram completamente sob tensão, mantendo o equipamento em posição mas conferindo liberdade suficiente para oscilar de acordo com as ondas incidentes. As seções cilíndricas estão unidas por juntas articuladas onde se encontra um módulo de conversão de energia.
Cada junção dos tubos contém um sistema hidráulico. À medida que as ondas passam pelos tubos, estes mexem-se num movimento parecido com o das serpentes (daí as máquinas serem baptizadas de Pelamis, o que significa cobra marinha em grego). A oscilação nas articulações permite acionar geradores de electricidade.
Os movimentos induzidos pelas ondas são absorvidos por cilindros hidráulicos, que pressurizam óleo. Acumuladores suavizam o circuito até o acionamento dos geradores elétricos que produzem eletricidade.
A energia obtida desta forma em cada uma das juntas é posteriormente encaminhada para terra, através de um cabo submarino, para uma subestação de interligação com a rede elétrica.